Dez anos depois, A Cartilha está de volta.

04/05/2011

Otelo, o Ator

Numa célebre viagem a Moçambique, pouco tempo após o 25 de Abril, Spínola pediu a Mário Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros desse Governo provisório, que fosse a Moçambique negociar com Samora Machel um acordo de cessar-fogo com a Frelimo. Só que, entre as sombras, Spínola chamou Otelo a Belém e ordenou-lhe que vigiasse Soares, visto não confiar nele.

Otelo, então comandante do Copcon, aproveitou a viagem para conhecer Mário Soares e virar do avesso toda a estratégia do Presidente. Em plenas negociações, Soares seguiu o guião pensado por Spínola: negociar um cessar-fogo imediato e, implicitamente, criar condições para um regime pluripartidário.

Foi então que Otelo, perante o espanto geral, pediu a palavra e disse: «Eu estou aqui como representante do MFA e a nossa filosofia não passa por isto. De facto, quem tem direito ao exercício do poder num Moçambique livre e independente é a Frelimo. Se eu estivesse do vosso lado, faria exactamente a mesma coisa. Realmente não faz sentido o cessar-fogo».

Soares interrompeu a cimeira e levou Otelo para um canto. Mas, antes que pudesse abrir a boca, o militar avisou-o de que falava em nome do MFA. Mário Soares apenas lhe perguntou se estava preparado para dizer a Spínola o que estava a dizer-lhe a ele. Otelo disse que sim - e, a partir daquele momento, nunca mais os protagonistas conseguiram encarar-se.

SOl

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