Abandonando o mito da escolha cerebral que todos incensam, olhemos a realidade. A maioria vota com o nariz, sempre no mesmo partido. Depois vêm os indecisos e flutuantes, que se consideram mais sofisticados. Esses seguem três hipóteses.
Nas eleições menores, votam com o coração. Europeias e referendos é onde as razões ideológicas e de simpatia prevalecem e a abstenção e partidos pequenos sobem, porque o jogo é a feijões. Mas isso acaba por ser muito negativo porque essas decisões são mesmo influentes e nenhuma eleição é de desprezar. É por isso que o Parlamento Europeu é grotesco e as escolhas referendárias contraditórias.
Não é provável que isto aconteça nas legislativas, onde a escolha é a sério. Aí todos se deixam de análises e doutrinas e votam com o bolso. É a isto que se chama "voto útil", escolhendo não quem governa melhor ou defende a ideologia preferida mas o que menos estragos fará ao interesse particular. Por isso é que desta vez as coisas estão tão tensas e incertas: os eleitores acham que qualquer dos governos plausíveis fará bastante estrago.
Para além destes métodos de voto, só existe mais um. Nas autárquicas fora dos grandes centros, as pessoas não votam com o nariz, a cabeça, o coração ou o bolso, mas com as tripas. Aí as lutas são renhidas e as paixões intensas, pois todos se conhecem e amam ou odeiam com ardor. Por isso é que as autárquicas são as únicas eleições a sério em Portugal, em que a verdadeira democracia ainda tem hipóteses.
João César das Neves, Diário de Notícias, 14-Set-2009
20/09/2009
O Voto
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