Dez anos depois, A Cartilha está de volta.

18/09/2009

Marques Bessa

Como estudioso das teorias das elites ao longo da História, como classificaria aquilo que hoje temos em Portugal?

É uma pergunta muito abrangente, mas é um tipo descrito como elites oportunistas, isto é, o objectivo dessa elite não é governar ou realizar o bem público, nem tão-pouco preservar o Estado. O objectivo dessa elite, ocasional, é reproduzir-se e perpetuar-se.

Uma espécie de elites profissionais?

É verdade. No caso da política, transformam-se com o tempo numa profissão e dá origem a um conjunto de pessoas que busca manter a profissão. Por isso, quem tem esta profissão não a vai querer perder por nada e consequentemente não vai tomar decisões políticas que sejam boas para o Estado, mas que o vão, a ele, prejudicar.


«Freitas do Amaral»


Há pouco tempo, Freitas do Amaral falava da existência de perigos para a democracia devido a toda esta crise que...

O professor Freitas do Amaral tem muito pouca credibilidade para falar sobre seja o que for. Quando mataram o Sá Carneito - ou ele caiu do avião? -, a primeira coisa que esse cavalheiro fez foi chegar-se à boca de um microfone e dizer que foi um acidente. Era profeta? O que ele diz não se escreve, o que ele afirma também tem pouco interesse. Escreveu um livro sobre D. Afonso Henriques que é uma verborreia espantosa, nem na praia se pode ler. Aquilo não presta.


«Modelo democrático»


Mas isso não representa o esgotamento do chamado modelo democrático?

Claro. O modelo democrático é apresentado como uma fórmula última, o fim da história. Não há outros modelos? As pessoas são tão cegas que não percebem que há outros modelos? Para governar pessoas e Estados. Singapura não é uma cidade-Estado?

É a segunda vez que fala de Singapura. Gostaria de lá viver?

É um sítio limpo, onde não há papéis no chão, onde ninguém rouba, onde todas as portas estão abertas e ninguém toca num bem alheio. Macau também é um novo tipo de estatalidade, Hong Kong igualmente, na época medieval não existiam cidades governadas por bispos, por príncipes, e depois?

O que me está a dizer é que podemos voltar a isso?

Claro que podemos. Depois de este sistema entrar em colapso. Tudo é uma construção.


«Portugal e o exterior»


Portugal pode sobreviver, actualmente, fora da União Europeia?

Aqui há uma coisa verdadeira, ainda não tivemos essa experiência. E nunca apostámos tudo no mesmo cesto, como agora acontece. E os portugueses, quando se observa o discurso e a vida, sentem que não são europeus. Até porque cada vez temos menos contactos culturais com países mais ricos. A imigração especializada de Leste, com médicos, engenheiros e outros que estão a vir, é encaixada nas obras para construir prédios para patos-bravos.

Não aproveitamos nada deste saber. Os brasileiros foram bem mais espertos. Foram à Ucrânia e à Rússia e negociaram calmamente a vinda de físicos e químicos, compraram os aparelhos e colocaram-nos nas faculdades. Os americanos já tinham ido buscar os peritos alemães, após a II Guerra Mundial, para desenvolverem a indústria aeroespacial.


E a Espanha aqui tão perto. Os receios públicos que surgem de quando em vez têm para si razão de ser?

A Espanha não deve ser nem uma preocupação nem uma barreira. Mas o nosso primeiro-ministro dá-lhe na ideia falar espanhol, a mostrar que sabe falar castelhano. O que é que faria um político inteligente? Visitava a Catalunha e falava com os catalães, visitava a Galiza e falava com os Galegos, visitava o País Basco e falava com o partido nacionalista, visitava a Andaluzia e falava com o partido independentista e só, finalmente, ia a Madrid e falava português.


«Presidente da República»


Neste momento, o debate político quase se concentra nas eleições presidenciais. Quase se desenha uma guerra na escolha dos candidatos.


Não a compreendo, porque a função do presidente é meramente decorativa, circula por aí com a primeira dama e faz a figura de reizinho. Na maior parte das vezes, faz figura de tolo. Vive num palácio e tal, parece que não pagam renda, tem uns tipos a cozinharem para eles, vão aqui e acolá.


«Eleições»


Vota nas eleições?

Pertenço ao grupo daqueles que estão muito interessados em que haja consciência por parte da elite de que há uma quantidade de pessoas muito desinteressadas de todo este teatro, em que os principais actores são eles. E ou contractam melhores actores ou o teatro fecha.


António Marques Bessa, via Direita Conservadora

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